Um dos temas mais debatidos e comentados, muitas vezes erroneamente, em reprodução humana, é a influência do estresse sobre a fertilidade. É muito comum que casais que estão tentando engravidar sem sucesso ouçam de amigos ou até mesmo de médicos não especialistas: “Vocês não estão conseguindo porque estão muito estressados ou ansiosos. Basta relaxar e esquecer que logo vocês conseguem a gravidez…”.
Até que ponto estas afirmações são verdadeiras, e qual a influência real do estresse sobre nossa fertilidade? Vamos tentar esclarecer neste post.
Para começar devemos dizer que o estresse é uma reação natural do organismo, e, na maioria das vezes, benéfica pois ativa sistemas orgânicos fisiológicos que aumentam nosso poder de defesa em relação a uma série de agressões internas e externas. Já à época dos nossos antepassados – os homens das cavernas – o estresse exercia um papel importante, preparando aquele homem para luta ou fuga, e sendo fundamental para sua mais longeva sobrevivência.
E todos nós, indistintamente, estamos submetidos a situações de estresse, mesmo quando bebês ou crianças. Principalmente nos dias atuais, de tanta velocidade, informação e competição. Portanto, o problema não é o estresse em si, mas a maneira como lidamos com ele, e a maneira como nosso corpo reage à “provocação”. Se o estresse está controlado e ocorre em ocasiões pontuais, não causa prejuízos relevantes ao organismo. E existem várias possibilidades de amenizar o estresse, como atividades de relaxamento, esportes, leitura, lazer em geral, convívio familiar, etc. Cada um deve encontrar sua maneira de diminuir o impacto que esta situação possa trazer.
Quando ocorre de maneira muito intensa e frequente, em pessoas que não conseguem lidar bem com os acontecimentos, o estresse pode levar a uma série de problemas. Há liberação no organismo de várias substâncias, entre elas a adrenalina, que leva a um aumento da frequência cardíaca e pressão arterial. Em longo prazo isto pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares. Há ainda reações metabólicas que levam a aumento de substâncias oxidantes, como os radicais livres, em vários tecidos e órgãos. Os radicais livres estão na origem de várias doenças como as autoimunes e degenerativas, inclusive o câncer. Portanto, estresse excessivo e não controlado pode levar a vários problemas de saúde.
É lógico então inferir que o estresse poderia também alterar a função reprodutiva e causar infertilidade. Afinal, o processo reprodutivo da espécie humana é altamente especializado e sensível a agressões. O processo inflamatório crônico e a produção excessiva de radicais livres decorrentes de situações prolongadas de estresse poderiam interferir em várias etapas da reprodução, causando distúrbios ovulatórios, prejudicando a qualidade dos óvulos, impactando negativamente na fertilização espontânea, ou ainda alterando a produção de espermatozóides no homem.
O raciocínio é lógico mas….é fundamental que as evidências científicas ratifiquem nossa impressão. O problema é que os estudos científicos têm se mostrado controversos neste assunto, com conclusões por vezes contraditórias, exceto em situações extremas de estresse que possam levar por exemplo a anovulação na mulher. Em situações cotidianas ou moderadas de estresse, fica difícil relacionar este problema diretamente com a dificuldade para engravidar. Provavelmente pela grande variabilidade que existe tanto nos problemas provocados pelo estresse, como também na reação de cada organismo a ele.
Desta maneira, não existe uma prova cabal, cientificamente inequívoca, de que o estresse possa causar infertilidade.
Entretanto, alguns detalhes devem ser ressaltados. Primeiro é que qualquer ação que vise a reduzir o estresse a que o casal infértil possa estar submetido, vai repercutir como uma melhora geral da saúde daquele casal. Então é rotina que o especialista recomende uma vida mais regrada, com dieta mais equilibrada, esportes e atividades de relaxamento, que tanto ajudam a reduzir o estresse como deixam o casal mais saudável para o bebê que está a caminho. Se estas recomendações vão aumentar a chance do casal engravidar, está para ser ainda comprovado por estudos.
Segundo, a infertilidade em si é um fator muitas vezes de extrema ansiedade e estresse para o casal. Por isso, tentar diminuir fatores externos que estejam acentuando estes problemas é também dever do especialista em medicina reprodutiva. O casal mais relaxado e equilibrado vai ser mais participativo, e lidar com mais tranquilidade com situações difíceis que possam surgir da própria avaliação (exames) e dos tratamentos de fertilidade.
Por hoje é só. Mas fiquem atentos (as). Na próxima semana permanecemos falando sobre o estresse, mas desta feita conversando sobre os efeitos que o estresse pode ter no resultado dos tratamentos de reprodução assistida.
Será que a mulher estressada tem menor chance de engravidar com a fertilização in-vitro (FIV)?. Até a próxima semana….