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Transferência de embriões congelados: mudança de paradigma na FIV?

6 de fevereiro de 2015

Cada vez mais, nos tratamentos de fertilização in-vitro (FIV), os especialistas têm recorrido à transferência de embriões congelados (TEC). A técnica se sobrepõe a transferência a fresco. Em algumas clínicas este procedimento tem se tornado inclusive padronizado. É o método conhecido como “freeze-all”, termo em inglês que significa congelar todos os embriões para transferir em ciclo posterior.

Esta mudança de paradigma na transferência embrionária da FIV decorre de vários fatores, que vamos procurar explicar neste post.

A VITRIFICAÇÃO

Os métodos de congelamento embrionário evoluíram muito nos últimos anos. Antigamente, com a técnica denominada congelamento lento, os resultados clínicos eram inferiores à transferência de embriões a fresco.

Desde o advento da Vitrificação, a técnica de congelamento embrionário tornou-se mais simples e mais efetiva. Existe uma preservação muito boa da qualidade embrionária no congelamento por vitrificação. A taxa de sobrevivência pós-descongelamento é superior a 90%. Já os resultados clínicos, ou seja, a taxa de gravidez com embriões vitrificados tem se mostrado igual ou até superior. Se comparada com transferência de embriões a fresco, claro.

Com toda a certeza, este avanço permitiu que os médicos ficassem muito tranquilos quando é preciso congelar os embriões.

ARGUMENTOS CLÍNICOS A FAVOR DO CONGELAMENTO

Durante o processo de estimulação ovariana controlada, que é o passo inicial do tratamento de FIV, a mulher é submetida a níveis muito altos, supra-fisiológicos, de hormônios, principalmente o Estradiol. Existem evidências científicas de que esta exposição possa alterar a receptividade endometrial e a formação da placenta.

Desta maneira, a transferência de embriões a fresco poderia incorrer em chance de gravidez menor. Isso devido a esta super-exposição hormonal endometrial. Além disso, esta placentação alterada poderia explicar os resultados obstétricos alterados na FIV, já que os bebês têm risco maior de prematuridade, baixo peso, e insuficiência placentária,

No caso da TEC, não existe esta super-exposição hormonal. O procedimento pode ser realizado em ciclo natural, ou com preparo endometrial com estradiol oral. Os níveis hormonais são iguais ou ligeiramente superiores a um ciclo natural da mulher. O endométrio estaria desta maneira mais receptivo, e as taxas de implantação seriam melhores. Os estudos científicos têm comprovado esta premissa.

Neste mesmo raciocínio, a placentação ocorreria em ambiente mais fisiológico, reduzindo riscos obstétricos. Estudos de acompanhamento de pacientes submetidas à FIV com transferência a fresco x TEC, tem mostrado que nos ciclos de congelados os riscos de sangramentos obstétricos, prematuridade e baixo peso do recém-nascido são menores.

MENOR RISCO DE SÍNDROME DO HIPER-ESTÍMULO OVARIANO (SHEO)

Uma complicação temida da FIV é o estímulo excessivo dos ovários, que tem como resultado o quadro da SHEO, notadamente em pacientes de risco. como nos casos de Síndrome do Ovário Policístico, reserva ovariana alta e baixo índice de massa corporal. Esta situação pode acarretar em risco de vida real para as pacientes, e deve ser evitada a todo custo na reprodução assistida.

Atualmente, existe uma estratégia para virtualmente zerar o desenvolvimento de SHEO. Em pacientes de risco, o bloqueio hipofisário com antagonistas de GnRH durante a estimulação ovariana permite que o gatilho da ovulação seja disparado com agonistas de GnRH (Lupron ou Gonapeptyl-daily), sem necessidade do uso do HCG (principal desencadeador da síndrome). Assim o risco de SHEO fica praticamente zerado.

Porém, o endométrio fica muito pouco receptivo nesta situação, e torna-se necessário vitrificar os embriões para transferência posterior. Com os excelentes resultados da transferência de congelados, conforme descrito acima, esta conduta, ou seja, gatilho da ovulação com agonista de GnRh + vitrificação de todos os embriões, tornou-se conduta padrão na eliminação do desenvolvimento da SHEO.

CONCLUSÃO

Todos os motivos explicados acima têm reforçado cada vez mais o entusiasmo com a técnica da vitrificação embrionária para transferência posterior. Os estudos científicos têm se avolumado confirmando que a técnica é segura e efetiva.

A conduta atual então é:

Na dúvida sobre a receptividade endometrial, o melhor processo é vitrificar os embriões. Bem como, transferir em ciclo natural ou com preparo endometrial.

Lembrando que, o mesmo vale para casos em que a transferência a fresco possa acarretar riscos para a paciente.

Vale ressaltar que para se beneficiar desta fantástica técnica, o laboratório de FIV deve ter um excelente programa de vitrificação e descongelamento embrionário, com embriologistas preparados e experientes no processo.

Boa leitura e bom proveito! Até nosso próximo post.

2 Comentários para “Transferência de embriões congelados: mudança de paradigma na FIV?”

  1. Sara disse:

    Oi Dr Fábio!

    Fiz cirurgia de Endometriose há 3 meses e tambem descobri PAI 4G/5G heterozigoto e células nk elevadas. Antes já havia feito 4 transferências, todas negativas. Nessa usarei enoxaparina, intralipid e meu médico me propôs transferir agora em ciclo natural, mas com uso de hcg para ovulação . Qual a sua opinião sobre esse método no meu caso? O ciclo natural tem as mesmas chances de sucesso que induzido, é melhor ou pior?

    Obrigada!

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