DOAÇÃO DE GAMETAS
Casais que não tenham espermatozoides e/ou óvulos disponíveis podem se submeter a Fertilização in vitro utilizando-se gametas de doadores. Esta é uma decisão pessoal baseada na crença do casal, e no grau de desejo em ter um bebê com conexão biológica e genética com um dos cônjuges.
Sêmen de doador vêm sendo utilizado há várias décadas para obter gravidez em casais com poucos ou nenhum espermatozóide. Ao contrário do óvulo, cujo congelamento acarreta perda importante no seu potencial de fertilização, o sêmen já tem estabelecido protocolos seguros e eficientes para seu congelamento/descongelamento sem que haja perdas importantes em sua funcionalidade.
Desta maneira já temos no Brasil centros de congelamento de sêmen de doadores que podem atender a clínicas de reprodução em todo o país. Devido aos riscos potenciais de utilização de sêmen fresco de doador, atualmente, o sêmen de doador congelado é exclusivamente utilizado para inseminação em ciclo de inseminação intra-uterina ou FIV. O sêmen só é disponibilizado após uma extensa avaliação genética e clínica do doador, para afastar riscos de transmissão de doenças hereditárias e doenças infecciosas. Após o descongelamento, o sêmen é manipulado da mesma forma que o sêmen fresco para a FIV.
DOAÇÃO DE ÓVULOS
O Óvulo é certamente a célula mais preciosa no processo de reprodução, pelo fato de ter produção limitada, já que toda mulher nasce com todos os seus óvulos e não produz mais nenhum a partir de então, e pelo amadurecimento de apenas um, em condições normais, a cada período fértil feminino.
Existem situações em que mulheres não têm óvulos disponíveis para engravidar. O exemplo mais dramático é o caso da paciente que perdeu seu ovário cirurgicamente por causa de alguma doença benigna ou mesmo maligna.
Na situação mais freqüente, a mulher tem ovários mas seus óvulos já não possuem mais capacidade adequada de fertilização: é a chamada falência ovariana. Esta pode ser precoce, quando ocorre antes dos quarenta anos de idade, e geralmente está ligada a fatores genéticos como os mosaicismos ou as disgenesias gonadais, ou pode ocorrer fisiologicamente e mais ou menos rapidamente a partir daquela idade. Devemos lembrar que os óvulos têm a mesma idade biológica da mulher, e ao longo do tempo vão perdendo a capacidade reprodutiva.
Dados do Center for Disease Control (CDC) dos EUA, que reportam os resultados de todas as clínicas de reprodução assistida sediadas nos Estados Unidos, mostram que após os quarenta anos existe uma dramática redução nas taxas de gravidez obtidas pelos tratamentos de Fertilização in-vitro, além de um aumento considerável nas taxas de aborto, quando são utilizados os óvulos da própria mulher. Para se ter uma ideia as taxas de gravidez e as taxas de nascidos vivos por transferência embrionária para uma mulher de 42 anos (dados de 2003 do CDC) são , respectivamente, 16% e 9%. Em outras palavras de cada 100 mulheres com aquela idade que se submetem ao tratamento de FIV com seus próprios óvulos, apenas 9 conseguem realizar o sonho de ter um bebê.
Nestes casos, em que não há óvulos disponíveis (cirurgias de extirpação do ovário), ou em que os óvulos já não têm capacidade adequada de fertilização (menopausa precoce, climatério, idade acima de 40 anos), a doação ovular representa uma chance real de gravidez através dos tratamentos com FIV. No caso da paciente de 42 anos antes reportada, uma tentativa de FIV com doação ovular lhe daria uma chance de bebê-em-casa em torno de 50% (lembrem-se da chance de 9% com os próprios óvulos).
O óvulo doado é inseminado com o esperma do cônjuge da receptora, e após a fertilização, o embrião é transferido para o útero da receptora, o qual estava sendo hormonalmente preparado para receber a gravidez.
Neste caso, o embrião tem características genéticas da doadora e do cônjuge da receptora.
Um dos problemas que dificultam a doação ovular é que este procedimento é quase exclusivamente realizado com óvulos frescos. Isto acontece porque o congelamento/descongelamento de óvulos ainda é um procedimento com baixa aplicabilidade clínica, já que por suas características peculiares, o óvulo é uma célula que não resiste bem ao processo de congelamento/descongelamento, e as chances de gravidez com esta técnica ainda são muito baixas. Este problema diminui consideravelmente a disponibilidade de óvulos para a doação. Afinal estes têm de ser obtidos em ciclos a fresco de FIV em que a mulher produza um número excessivo de óvulos, e concorde voluntariamente em doar alguns.
Conselho Federal de Medicina
O processo de doação ovular é reconhecido e regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina, que exige apenas que a doação seja um ato voluntário, sem remuneração pecuniária, para que não caracterize “venda” de órgãos e/ou tecidos, e que haja anonimato entre as partes envolvidas, para evitar problemas futuros de reclame de maternidade/paternidade. A lei brasileira reconhece a paternidade e maternidade da criança nascida a partir de programas de doação para o casal receptor, ou seja cuja mãe gerou o bebê em seu útero.
Equipe médica
É fundamental que a equipe médica tome os cuidados básicos de procurar equiparar os traços físicos das mães doadora e receptora, e que a doadora passe por uma completa avaliação prévia em relação a doenças genéticas e doenças infecciosas. Desta maneira estaremos guardando a saúde da mãe e do futuro bebê, e evitando problemas sociais e familiares a posteriori.
DOAÇÃO COMPARTILHADA
A dificuldade em conseguir doação de óvulos, aliada à realidade em nosso país de um grande número de mulheres carentes de recursos financeiros para realizar um tratamento de FIV, fez surgir a ideia, já efetivada em alguns centros do país com anuência do Conselho Federal de Medicina, da doação compartilhada.
Neste caso, mulheres carentes com menos de 34 anos e função ovariana normal, são avaliadas como possíveis doadoras, e têm parte de seu tratamento custeado por pacientes receptoras, com o compromisso de doar metade dos seus óvulos captados.
Tanto a doadora quanto a receptora são mantidas no anonimato.