Daysevan Fekete teve gravidez espontânea, enquanto Nilda Sampaio congelou
óvulos para fazer tentativas após a finalização do tratamento da doença.
Daysevan Fekete tem 36 anos de idade e cresceu numa casa cheia de gente. Com
13 irmãos, o caminho natural, para ela, era constituir uma família grande
quando crescesse. Sonhava com pelo menos quatro filhos – duas meninas e dois
meninos -, e começou a realizar esse desejo há seis anos, com o nascimento da
primogênita Marina. Um diagnóstico de câncer de mama, no ano de 2017,
porém, obrigou-a a repensar a sequência.
A confeiteira tinha acabado de cogitar a segunda gravidez com o companheiro quando recebeu a notícia. “Diante do câncer, o médico me disse que não era mais interessante que eu tivesse outro filho. Fiquei triste, mas quando fui para a segunda sessão de quimioterapia, encontrei uma moça muito nova que não
tinha tido nenhum filho ainda, aí agradeci a Deus por ter uma, e pedi perdão por
ter ficado tão mal. Então, o desejo saiu da minha mente, mas não do meu
coração”, conta.
A recomendação que ela recebeu é comum entre pacientes com esse
diagnóstico. Isso porque, como explica o ginecologista Fábio Eugênio Rodrigues,
por se tratar de uma doença metabólica, ela traz um trauma muito grande ao
organismo de um modo geral, reduzindo as chances de gravidez. “O outro aspecto é que os tratamentos de alguns tipos de câncer podem também levar à diminuição da fertilidade, por atingir os órgãos reprodutivos”, evidencia o especialista em reprodução humana assistida. Inserida nesse contexto, Daysevan precisou atravessar cada etapa do processo sem alimentar a esperança de aumentar a família. Primeiro as sessões de quimioterapia, depois a mastectomia e, por fim, a radioterapia. Quando já estava tomando a medicação, recomendada entre cinco a dez anos após o tratamento intensivo, veio a surpresa: estava grávida de novo e da segunda menina, Mayrine. “É uma bênção muito grande, algo maravilhoso.
Deus lembrou que eu tinha pedido”, comemora ela, atualmente com 35 semanas de gestação. “Todos os
meus irmãos tiveram muitos filhos. É muito bom isso. Todo fim de semana tem
um lugar para ir, você sempre está no telefone com alguém, a família não deixa
brecha pra gente se sentir só”, completa.
Cuidados
Por se tratar de uma circunstância atípica, a gestação de Daysevan inspira ainda
mais cuidados. De imediato, ela precisou interromper a medicação que vinha
tomando e, diferentemente da primeira gravidez, quando foi acompanhada em
clínica particular, agora está sendo atendida pela Maternidade Escola Assis
Chateaubriand da UFC e pelo Instituto do Câncer do Ceará (ICC). “É muito
diferente. Estou fazendo todo tipo de exame, não são só os de rotina”, destaca.
Apesar de tudo, a confeiteira confessa que vive um momento muito especial
com a família. “Contamos os dias para ver o rosto dela. Sinto vontade de
conhecê-la logo, tê-la nos braços”, partilha. A mais ansiosa, porém, é a pequena
Marina. “Ela me pedia muito uma irmãzinha. Quando eu adoeci, expliquei que
não poderia mais. Então, ao saber que estava grávida, ela ficou numa felicidade
só. Sempre que vou ao médico, ela pergunta se já vou trazer a neném”.
A fé em Deus e na medicina segue movendo Daysevan dia a dia de sua
caminhada. “A doença não veio me matar, ela veio me ensinar a viver”, acredita.
“O câncer te dá oportunidade de olhar para o futuro. Você vê o que aconteceu
com as pessoas do Edifício Andrea. Elas estavam naquele prédio que desabou e
não imaginavam que aquilo aconteceria. A gente que é diagnosticado com uma
doença tem a possibilidade de lutar pela nossa vida”, observa emocionada.
Esperança
O médico Fábio Eugênio Rodrigues orienta alguns procedimentos para as
mulheres acometidas pelo câncer e que desejam engravidar. “As técnicas de
reprodução assistida são as utilizadas nesse caso. As mais comuns são o
congelamento de óvulos previamente ao tratamento. Se a paciente descobre o
câncer e vai fazer quimioterapia, que é muito agressiva e pode destruir seus
óvulos, ela pode congelá-los antes. O mesmo vale para os embriões, se a mulher
já estiver num relacionamento estável”, explica. A cabeleireira Nilda Sampaio, 35 anos, foi uma das pacientes que investiu nisso. O sonho da maternidade já a acompanhava em 2017, quando recebeu o
diagnóstico do câncer de mama.
Na época, ela estava realizando uma série deexames com o intuito de engravidar, mas precisou adiar o desejo para começaro tratamento. Antes, porém, foi orientada pelo mastologista a proceder com o
congelamento dos óvulos. “Comecei a tratar em agosto de 2017. Desde novembro daquele ano, tomo
medicamentos e devo interrompê-los em 2020 para tentar engravidar.
Primeiro de forma natural, porque não tive a menopausa precoce. Aí se eu não conseguir,
faço a partir dos óvulos congelados”. Casada há seis anos, Nilda demonstra
tranquilidade com todo o processo. “Eu não desisti, mas coloquei tudo nas mãos
de Deus”, diz. Assim como Daysevan, é possível que, muito em breve, ela receba
a melhor notícia.
Fertilidade
O ginecologista Fábio Eugênio Rodrigues alerta sobre cuidados para a mulher
conservar a fertilidade, independentemente de ter ou não algum tipo de câncer:
Idade
Este é o fator fundamental para engravidar. As maiores chances de gravidez são
até os 30 anos. Após os 35, é necessário procurar um especialista e, se for
necessário, fazer técnicas de preservação da fertilidade.
Hábitos saudáveis
Manter um peso adequado à altura e o IMC dentro do padrão; praticar atividade
física, diminuir gorduras saturadas e alimentos industrializados são alguns
cuidados importantes para manter o ciclo hormonal e a ovulação normais.
Suplemento
Complemento do folato, o ácido fólico é indicado para toda mulher que está
tentando engravidar.
Acompanhamento
Recomendam-se visitas anuais ao ginecologista para fazer a prevenção e tratar
inflamações e/ou infecções.
Link da matéria completo no Diário do nordeste: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/verso/online/mulheres-compartilham-as-expectativas-da-maternidade-apos-o-diagnostico-do-cancer-de-mama-1.2163671
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