Apresentei uma palestra na quinta-feira dia 21 de junho, no II Congresso Cearense de Ginecologia e Obstetrícia, versando sobre o tratamento da subfertilidade em pacientes com Síndrome Metabólica (no final deste post um link para o conteúdo completo da palestra).
E o que vem a ser esta tal de síndrome metabólica? Qual sua relação com subfertilidade? É isto que vamos explicar.
A síndrome metabólica é um conjunto de fatores de risco cuja co-existência em uma mesma paciente aumenta muito o risco de que, futuramente, esta mulher desenvolva diabetes mellitus, ou doenças cardiovasculares, como aterosclerose, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).
Seu diagnóstico é muito simples, podendo ser feito por médicos de qualquer especialidade através de exame físico e alguns exames laboratoriais básicos. Para que exista a síndrome, é necessário coexistirem ao mesmo tempo três dos cinco fatores listados abaixo:
Devido aos riscos futuros de doenças cardiovasculares e diabetes, o acompanhamento destas mulheres deve ser rigoroso e multidisciplinar, envolvendo clínico geral, cardiologista, endocrinologista, nutricionista, e educador físico, entre outros. O objetivo é conseguir redução de peso e controle de todos estes fatores, para melhora da saúde, estado geral, e redução de riscos futuros.
Existe uma relação estreita desta condição clínica com reprodução humana, pois mulheres que tenham a síndrome do ovário policístico (SOP) possuem várias características semelhantes à síndrome metabólica.
Mulheres com SOP possuem quase sempre alterações metabólicas associadas com resistência à insulina, tais como aumento dos hormônios androgênicos, que levam a intolerância à glicose (aumento da glicemia), acúmulo central de gordura (aumento de circunferência da cintura), aumento de pressão arterial, e alterações nos lipídios plasmáticos (triglicerídeos e HDL). Ou seja, exatamente os fatores envolvidos na síndrome metabólica.
A presença de obesidade, caracterizada por índice de massa corporal acima de 30 kg/m2, e que é muito comum em mulheres com SOP, acentua ainda mais as características da síndrome, tanto do ponto de vista da síndrome do ovário policístico, como da síndrome metabólica.
Trabalhos científicos de grupos brasileiros, como da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (Ferriani e cols, 2011), atestam que a síndrome metabólica é muito comum em mulheres com SOP. No estudo feito naquela universidade a síndrome estava presente em 17% das pacientes magras, e até 64% das pacientes obesas com SOP. É muito freqüente!!
Mulheres com SOP e síndrome metabólica têm sua fertilidade alterada basicamente por fatores ovulatórios (anovulação), como é tradicional nos casos de síndrome do ovário policístico. Entretanto, neste grupo de mulheres, existem características particulares de disfunção metabólica que requerem especial atenção do especialista que está tratando a subfertilidade associada.
Há evidências científicas inequívocas de que a obesidade em si já é um fator de subfertilidade. Estas mulheres, além de maior dificuldade para conseguirem engravidar, quando conseguem, sofrem de uma série de riscos adicionais, tais como aumento da possibilidade de aborto precoce, diabetes mellitus gestacional, doença hipertensiva na gravidez (pré-eclâmpsia), e risco de vida para o recém-nascido.
Portanto, a linha de tratamento básico passa sempre por um grande esforço no sentido de correção das alterações metabólicas, antes da tentativa de gravidez propriamente dita. A linha mestra desta etapa inicial é a perda de peso, através de re-educação alimentar e programa de atividade física. Tudo sempre supervisionado por profissionais especializados, já que nestes casos existe dificuldade adicional de perda de peso pela própria doença (SOP).
Esta perda de peso, com conseqüente diminuição dos riscos metabólicos, é tão importante que muitas vezes é o único tratamento necessário!! Explico melhor: com perda de peso e gordura corporal, principalmente abdominal (cintura), muitas mulheres regularizam seus ciclos menstruais, voltam a ovular, e até engravidam naturalmente.
Alertamos sempre que o tratamento e esforço para perda de peso devem sempre ser realizados antes da tentativa de engravidar. Existem estudos mostrando que mulheres que engravidam durante esforços muito intensos para emagrecer, como dietas radicais e medicações inibidoras de apetite (que inclusive foram proibidas pela ANVISA), podem ter risco de malformações congênitas nos seus bebês. Portanto, somente tentar engravidar após concluída a etapa de perda de peso e melhora dos aspectos metabólicos citados acima!!
Uma medicação adjuvante que pode ajudar nestes casos de SOP e síndrome metabólica é a Metformina (Glifage, Glucoformina, etc). Trata-se de um agente sensibilizador à insulina, e que, portanto, reduz a resistência insulínica e a hiperinsulinemia, ajudando a minorar algumas das disfunções metabólicas e potencializando a perda de peso.
Corrigidos estes fatores, e persistindo a dificuldade reprodutiva e/ou anovulação, estas mulheres podem ser submetidas à indução de ovulação. Na maioria das vezes, induções simples com citrato de clomifeno (Clomid, Serophene, Indux) resolvem o problema. Entretanto, e principalmente quando persiste algum grau de mais acentuado de hiperandrogenismo e disfunção metabólica, algumas destas pacientes podem ser resistentes à indução básica com o clomifeno.
Nestes casos existem as medicações mais potentes como as gonadotrofinas. Estas devem ser usadas por especialistas, com extrema cautela e rigorosa monitorização da resposta ovariana, já que este grupo de mulheres tem risco aumentado para a síndrome do hiperestímulo ovariano, e para gravidez múltipla. Outra opção seria a cauterização por videolaparoscopia (cirurgia) dos ovários policísticos – drilling ovariano.
Quando a correção da ovulação isoladamente não propicia a obtenção de gravidez, as técnicas de reprodução assistida, como a inseminação intra-uterina e a fertilização in-vitro (FIV) podem ser utilizadas, e com excelentes chances de sucesso.
Todos estes aspectos foram abordados na palestra da quinta próxima passada. Prometi aos colegas médicos que me prestigiaram no evento, que daria acesso às várias referências dos trabalhos científicos nacionais e internacionais revisados para a formulação da exposição.
Portanto, este é o LINK para o conteúdo completo da aula, em Power Point. Quem se interessar por algum trabalho específico, favor me contactar diretamente no e-mail drfabioeugenio@gmail.com, que terei a maior satisfação de passar a referência bibliográfica, ou mesmo o estudo completo.
Próxima semana teremos novidades internacionais!! É que estarei participando, de 1 a 4 de julho do Congresso Europeu (ESHRE) de Reprodução Humana e Embriologia, que este ano se realiza em Istambul na Turquia. Diretamente do congresso estarei passando posts sobre as últimas descobertas científicas na especialidade, com exclusividade para vocês.
Boa semana a todos, e até nosso próximo post!