E o que fazer para preservar a fertilidade de um paciente com câncer que ainda é apenas uma criança, ou de uma mulher que ainda não encontrou o parceiro ideal para gerar um embrião? A resposta pode estar no congelamento de tecido gonadal (ovariano ou testicular). Nas mulheres, por exemplo, a ideia é retirar completamente o ovário e criopreservá-lo durante o tratamento do câncer. Após a cura, o ovário seria transplantado novamente para a paciente.
A técnica vem sendo estudada pelo Prof. Dr. Johan Smitz, chefe do laboratório de biologia folicular e reprodução humana da Universidade de Bruxelas. Dr. Smitz está em um dos maiores centros de Fertilização in vitro (FIV) do mundo, realizando cerca de 3.500 casos por ano. Pioneiro nas pesquisas de congelamento de tecido ovariano, os métodos adotados pelo médico belga estão entre os mais avançados no mundo.
O grupo deste cientista, juntamente com o Dr. Jaques Donnez, conseguiu em 2004 a primeira gravidez em nível mundial com transplante de tecido ovariano previamente criopreservado. Até a presente data, apenas mais oito gravidezes decorrentes deste método foram descritas em literatura internacional. Portanto, trata-se de técnica nova, na qual muitos estudos e pesquisas estão sendo realizados, e ainda é considerada experimental.
Esses estudos são uma esperança para mulheres que sofrem dos mais variados tipos de câncer, e que como conseqüência do tratamento da doença, têm sua fertilidade comprometida ou mesmo se tornam completamente inférteis.
Os avanços espetaculares no campo da Oncologia (estudo e tratamento do câncer) têm permitido uma sobrevida longa e mesmo cura em vários tipos de câncer. Com isso, além do objetivo primordial de preservar a vida do paciente, torna-se importante se preocupar também com a qualidade de vida do paciente curado. Faz parte desta preocupação o interesse pela função reprodutiva pós-tratamento, já que muitos cânceres ocorrem em idade fértil em homens e mulheres que ainda querem ter filhos, ou ocorrem em crianças antes do alcance da maturidade reprodutiva.
Neste sentido é fundamental uma maior interação e integração do Oncologista com o especialista em Reprodução Humana. Os pacientes merecem ser esclarecidos dos métodos existentes na tentativa de preservar sua fertilidade. São procedimentos que podem ser efetivados e concluídos em poucos dias, não interferindo na urgência ou eficácia do tratamento oncológico. Quando em idade fértil, o congelamento de embriões ou sêmen estão bem estabelecidos. O congelamento de óvulos, com o advento da técnica de vitrificação, tem evoluído muito em resultados, e em alguns casos conseguimos chances de sobrevivência pós-desvitrificação, e fertilização destes óvulos que têm se aproximado das chances com óvulos a fresco.
O desafio maior ainda é quando o tratamento para o câncer é feito na infância. Nestes casos, o congelamento do próprio tecido gonadal, testículo ou ovário, tem sido proposto e estudado em todo o mundo. A técnica vem se refinando, e apesar de ainda experimental, aponta na direção da resolução do problema de preservação da fertilidade no tratamento do câncer infantil.