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A transferência embrionária na fertilização in-vitro (FIV) – Como implantar o embrião no útero

19 de novembro de 2012

O processo final e culminante da FIV é a transferência embrionária. Em post anterior explicamos a formação do embrião, seu desenvolvimento e como selecionar os embriões a transferir. Hoje vamos falar como é feita a transferência. O objetivo do procedimento, a transferência embrionária, é colocar no interior da cavidade uterina, ou seja, no endométrio, os embriões escolhidos na fertilização in-vitro (FIV) de maneira eficiente, rápida e com mínimo trauma possível ao endométrio – de preferência sem trauma nenhum !!

O primeiro passo é selecionar quantos e quais embriões transferir. A meta é otimizar o máximo possível a chance de gravidez, minimizando o risco de gravidez múltipla de grande ordem (trigêmeos ou mais).

QUANTOS  EMBRIÕES TRANSFERIR?

Em relação ao número de embriões transferidos devemos sempre seguir o que determina a resolução  do conselho Federal de Medicina, em relação ao número máximo de embriões de acordo com a faixa de idade.

Em mulheres até 35 anos, no máximo 2 embriões. Entre 35 e 40 anos, no máximo 3 embriões. Após 40 anos, podemos transferir até 4 embriões por tentativa. É fundamental esclarecer que este é um limite máximo em cada faixa de idade, mas a decisão final do número de embriões (respeitados estes limites) é do casal, após orientação da equipe médica sobre a qualidade dos embriões,  chances de implantação e riscos de gravidez múltipla.

Ou seja, uma mulher com 25 anos pode decidir transferir apenas 1 embrião, enquanto uma mulher com 38 anos pode solicitar a implantação de apenas 2 embriões. Para tomar esta decisão de maneira adequada, é preciso informação detalhada da equipe médica e embriologistas sobre o ciclo de FIV do casal. Assim eles podem decidir com mais segurança.

QUAIS EMBRIÕES TRANSFERIR?

Determinado o número de embriões a serem transferidos, o próximo passo é escolher estes embriões.

Quase sempre, é lógico, a escolha recai sobre os embriões de melhor qualidade. Esta qualidade é avaliada segundo as características de cada embrião: número de células em relação ao dia de cultivo, simetria das células, e presença/ausência de fragmentação.

Assim os embriões são classificados em tipo A, B, C ou D. Os de tipo A são os de melhor qualidade, e, portanto, com maior capacidade de implantar no útero. Porém, a chance de implantação dos embriões tipo B também é muito boa. Embriões de tipo C e D em geral tem células assimétricas ou fragmentação elevada: as chances de implantação são menores, mas existem, e não é incomum nos depararmos com gravidezes normais advindas de embriões com esta classificação.

COMO TRANSFERIR OS EMBRIÕES?

A meta a ser alcançada é colocar de maneira atraumática os embriões selecionados no endométrio do centro da cavidade uterina. É um procedimento completamente indolor, e que, portanto, não requer anestesia.

A paciente inicialmente enche sua bexiga, através da ingestão de líquidos. O objetivo é criar uma janela acústica. O líquido facilita a propagação do som, e, portanto, melhora a visualização das estruturas no ultrassom. Como o útero de localiza  embaixo da bexiga, quando esta fica repleta, temos uma excelente “janela” de visualização do útero.

Esta visualização é fundamental para realizar uma boa transferência embrionária. Somente assim podemos garantir que a pontinha do cateter vai ficar posicionada exatamente na cavidade uterina quando os embriões forem transferidos. Por isso, vários estudos científicos já comprovaram que as chances de gravidez são maiores quando a transferência embrionária é feita sob visualização ultrassonográfica.

Na sala de transferência a paciente fica em posição ginecológica. O médico coloca um espéculo para visualizar o colo do útero. Em seguida faz a limpeza, retirando secreções do orifício externo do colo (entrada do útero).

Em seguida ativa o ultrassom para visualizar todo o útero e cavidade endometrial. Neste momento também avalia a posição uterina (ante ou retrovertido), angulação do canal do colo uterino, e possíveis obstáculos à passagem do cateter, como por exemplo uma cicatriz hipertrófica de uma cesárea prévia. Desta maneira, a visualização ultrassonográfica permite que estas variações sejam detectadas e superadas, através de manobras de direcionamento do cateter, para que se atinja de maneira precisa a cavidade uterina.

O cateter de transferência é um delicado tubinho plástico, confeccionado com material específico não-tóxico para os embriões. na verdade são dois tubos que se acoplam. Um externo que servirá de guia e será primeiramente introduzido no útero; e um cateter interno ainda mais delicado onde os embriões vão ser carregados junto com um pouquinho de meio de cultura. Este cateter interno passa dentro do primeiro (já colocado no útero) e vai depositar os embriões lá no endométrio.

Estando com boa visualização do útero (ultrassom), então o médico toma a camisa externa do cateter de transferência embrionária. Esta camisa externa é um tubo plástico cuja ponta é radiopaca, ou seja, pode ser identificada pelo ultrassom. Desta maneira, olhando e guiando pelo ultrassom, este cateter é delicadamente inserido no canal uterino até que sua ponta chegue ao chamado orifício cervical interno (entrada da cavidade uterina e endométrio).

Com o cateter nesta posição, e ainda com ajuda do ultrassom, medimos a distância da ponta do cateter até o centro da cavidade uterina: é ali que vamos depositar os preciosíssimos embriões !! Esta distância é exatamente  o quanto o cateter interno vai passar dentro do externo na hora da injeção dos embriões.

Somente neste momento é que avisamos ao embriologista que estamos prontos, e que ele já pode trazer os embriões. Então os embriões são retirados da incubadora, carregados no cateter interno acoplado a uma pequena seringa, e trazidos à sala de transferência. O cateter interno é passado no interior do externo (que já estava em posição), permitindo que os embriões sejam transportados sem risco por todo o colo uterino, até atingir o centro da cavidade. Neste momento, a seringa é cuidadosamente comprimida e os embriões depositados gentilmente no endométrio.

Aguardamos alguns segundos e, com extremo cuidado, retiramos os cateteres juntos (externo e interno) e entregamos ao embriologista, que vai fazer a conferência do conjunto no microscópio para garantir que nenhum embrião permaneceu no cateter,e que, portanto, todos ficaram na cavidade uterina.

Todo este processo deve ser muito bem realizado, passo a  passo. Demoras na colocação dos embriões, traumas no canal uterino ou endométrio que levem a sangramento, cólicas uterinas, ou outras intercorrências podem prejudicar o procedimento de transferência e comprometer as chances de gravidez. Além de um médico habilidoso e experiente, é fundamental a atuação em conjunto e harmônica de toda equipe.

Este é o passo final, culminante no processo. Neste momento nos inunda uma sensação de dever cumprido !! Mas também uma enorme sensação de expectativa e otimismo, pois 12 dias depois faremos o exame de sangue (beta-hcg) que vai confirmar a tão sonhada gravidez. Em novo post explicaremos como é este período de espera do exame, e o que a mulher deve fazer para ajudar a conseguir o resultado positivo.

Bem, esperamos ter esclarecido como é o processo de transferência embrionária na FIV. Até nosso próximo post, sempre com informações relevantes e de qualidade em medicina reprodutiva, para vocês.  Até breve !!

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