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Debate sobre embriões humanos e células-tronco gera polêmica

16 de abril de 2010
Debate sobre embriões humanos e células-tronco gera polêmica

As células-tronco apareceram como uma grande solução na medicina, porque são as mais eficientes para a formação de novos tecidos. Virtualmente, elas podem formar qualquer tecido adulto, e, portanto, contêm um enorme potencial para tratamentos e cura de várias doenças que atualmente são limitados ou inexistentes.

As células-tronco embrionárias, as mais eficientes, são observadas nos embriões humanos por volta do 5° dia de vida, na fase de blatocisto. O problema é que a obtenção destas células a partir do embrião quase sempre o inutiliza, ou seja, destrói o embrião. Neste ponto, entram questionamentos éticos e religiosos: a partir de que momento se inicia a vida humana? A partir de que momento um conjunto de células derivadas da união de um óvulo com um espermatozóide pode ser considerado um ser vivo?

Essa e outras perguntas ainda não tem resposta. São fruto de pesquisas muito recentes. A própria Fertilização in vitro (FIV) tem pouco mais de trinta anos. São situações para as quais nunca houve uma opinião formada.

As clínicas de reprodução humana se orientam pelas resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM) e, mais recentemente pela Lei de Biossegurança. Segundo o Conselho, todo embrião humano produzido em procedimentos de Fertilização in vitro deve ser transferido para o útero da mulher e aqueles não são transferidos devem ser criopreservados (congelados). Esses embriões congelados pertencem ao casal.

Porém, essas resoluções sobre o tema datam de 1992. Segundo elas, os embriões só podem ser descongelados para transferência para o útero da mãe ou doado para transferência a outro casal (doação embrionária). Já a Lei de Biossegurança, de 2005, postula que embriões inviáveis ou que estejam congelados há mais de três anos podem, com consentimento do casal, ser doados para centros de pesquisas regulamentados que realizem estudos com células-tronco.

Sendo assim, há um embate entre os cientistas e a Igreja. Os primeiros, na vanguarda das pesquisas com células-tronco, vislumbram os benefícios imensos e alívio de sofrimentos que estas células podem trazer para portadores de várias doenças. Já a Igreja tem posição radical contrária a este uso, pois considera que existe vida humana desde o momento da fertilização, e, portanto estas pesquisas destroem a vida humana.

Qualquer que seja a escolha, ela pertence ao casal e deve ser respeitada. Cabe aos genitores a decisão sobre o destino dos embriões.

COMENTÁRIO DO ESPECIALISTA

A discussão sobre quando começa a vida, a nosso ver, não é o cerne da questão. Até porque, para nós que trabalhamos com reprodução assistida e acompanhamos a formação de uma nova vida desde os seus primórdios, esta pergunta está respondida: a partir do momento da fertilização do ovócito pelo espermatozóide, quando se forma a célula ovo ou zigoto, já existe uma vida em potencial, pois daquela célula vai se desenvolver todo o milagre da geração de um novo ser.

O questionamento principal seria: é eticamente aceitável a destruição de uma forma muito inicial de vida (o blastocisto – embrião de 5o dia) para a retirada de células-tronco, levando em conta que estes embriões não são mais desejados pelos seus genitores e iriam permanecer congelados “ad eternum “, e que este processo ajuda a ciência na descoberta da cura de várias doenças e incapacidades atualmente incuráveis?. A pergunta é longa e densa, mas após reflexão sobre esta questão, creio que a maioria das pessoas de bom senso e boa fé responderiam sim.

Somente quem tem parentes ou amigos sofrendo de patologias irreversíveis (paralisias, cegueira, cânceres, distrofias musculares, doença de Alzheimer) sabe o sofrimento que esta situação acarreta. Na minha opinião, é até desumano restringir o avanço da ciência nesta área bloqueando a pesquisa com células-tronco embrionárias. É certo que existe possibilidade de uso de células-tronco do cordão umbilical de recém nascidos, ou mesmo da medula óssea de adultos, mas o maior potencial de desenvolvimento de linhagens celulares ainda é com o estudo das células-tronco embrionárias.

A boa notícia é que pesquisadores já estão estudando a possibilidade de extrair células-tronco sem destruir o blastocisto. Brevemente, teremos novas e boas notícias nesta área. 

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